FG EDITION
Camera accessories designed by photographer Fernando Guerra. Handmade in Lisbon, Portugal.
Há sempre tendência para se associar aquilo que fazemos ao que somos. E no meu caso é evidente. Sou arquiteto e fotógrafo de arquitetura e de mim esperam que fale enquanto tal. Mas a fotografia e as arquiteturas não encerram, de todo, o que sou. Claro que é o que faço e claro que é o que me move todos os dias, no entanto, a fotografia enquanto modo de vida é também o ponto de partida de todo um percurso que passa por tantas outras coisas. E é aqui que se enquadra a FG Edition.
Guardar: uma viagem pessoal
A FG Edition foi lançada em 2014 com a marca portuguesa Sul como linha de acessórios pensada para quem gosta de fotografia. E se desenhar alças para máquinas fotográficas ou estojos para cartões de memória não estava propriamente programado na minha vida - como aliás poucas coisas estão -, apesar da inevitável relação com a vida profissional, a verdade é que acabou por ser o mote para me aventurar por um projeto mais pessoal.
Desde pequeno que gosto de transportar o que me faz falta, em mochilas, malas ou sacos. De preferência naqueles que me chamam a atenção. Com o tempo o gosto passou a necessidade e, atualmente, a máquina fotográfica é apenas um dos muitos objetos que me acompanham todos os dias.
Este modo de encarar os objetos como essenciais relaciona-se na perfeição com o gosto que tenho por malas/sacos principalmente feitos de pele. Sempre quis perceber como é o seu processo de manufatura; perceber como se desenham, como são os moldes, como se adaptam e se casam diferentes materiais e texturas, ou, no mais essencial, como se cose a pele. No fundo, acompanhar tudo o que está por trás da criação de uma mala.
Não necessariamente uma mala para fotógrafo - que é a esperada ligação ao que faço no meu dia a dia e a génese da FG Edition.
As malas típicas para fotografia tendem a ser aborrecidas no desenho e materiais porque se acha que a discrição é essencial. E, muitas vezes, é realmente importante.... Mas são as exceções que me interessam. Falo com conhecimento de causa, baseando-me nas dezenas de malas que tenho comprado ao longo dos últimos 30 anos. A verdade é que, por mais resistente que seja o material ou por mais locais inesperados pelos quais passamos, nem todos precisamos de malas que aguentem uma subida ao Evereste.
Eu, pelo menos, não preciso.
Por isso mesmo - porque sei do que é que gosto e sei o que me faz falta -, optei por dedicar-me à minha própria coleção de malas/ mochilas e alargá-la também a uma linha de acessórios, deixando-me levar por motivos que tenho encontrado ao longo da vida e nas constantes viagens que tenho o privilégio de fazer enquanto fotógrafo.
No meio de tudo isto, procuro a fuga aos materiais baratos, desinspirados, sem qualquer interesse visual ou táctil. Prefiro ir antes à descoberta de materiais expressivos, ricos no toque e apoiar-me na tradição de artesãos portugueses que, desde sempre, entre tantos, fizeram objetos como selas para montar, os saudosos sacos dos carteiros ou as malas dos revisores do autocarro que me lembro de ver por Lisboa, há uns anos atrás.
Por mais que viaje e por mais referências que tenha de outros povos e de outras culturas, nunca, por um só instante, me passou seguir com este projeto sem contar com tudo o que consigo encontrar por cá. Da matéria prima à execução. Mas, para contrariar a norma, a FG Edition é feita em Lisboa.
Inspirações
Se destacar aquilo que me inspira para a cada uma das peças da FG Edition, então temos o mundo, as pessoas e os objetos que surgem e me piscam o olho quando menos espero - seja na rua, num carro a rolar por aí, ou num post de Instagram. Por outro lado, há aquele pormenor a que já ninguém dá valor, mas que me parece tão perfeito preservar e reutilizar. E há ainda aquelas memórias de infância que tendem a persistir... Trinta anos depois, consigo ainda ficar encantado com o tom da pele, a linha e ponto usado no meu selim de bicicleta da Brooks; e para a FG Edition descobri no estojo de ferramentas da mesma marca a solução lateral perfeita como base para uma mochila dez vezes maior, como a nossa Garbatella.
Da minha passagem por tantos lugares, gosto de referir o dia em que, depois de ter passado por um grupo de crianças em Tóquio a irem para a escola, me apercebi que a tradicional e simbólica lancheira escolar japonesa (randoseru) é uma das mais belas malas que alguma vez vi. E a Garbatella tem muito desta mala japonesa.
Existem outros objetos simples que funcionam como inspiração - sejam meros arreios de equitação ou texturas que encontro e me levam a perceber o que realmente quero sentir: recriar a sensação de tocar nos estofos de um carro antigo em que a pele, endurecida pelo sol e pela passagem dos anos, acaba por ficar com uma patine singular (será que tudo o em que tocamos tem de ser em polyester ou plástico?); reviver a experiência de ter uma mala antiga de carteiro com uma patine única de uso que parece por si mesma guardar muitas das histórias das cartas que transportou... Durante muito tempo a minha foi um dos catalisadores para tudo isto.
E, tantas vezes, são os próprios objetos que definem o modo como serão guardados. Em causa está o seu desenho ou razão pela qual preciso deles. Não existem fórmulas ou road book. Nem sequer há um mapa para lançamentos de um novo modelo.
Uma coleção sem medo do tempo
Composta por malas, mochilas e acessórios, a FG Edition é, assim, uma coleção sobre guardar, transportar, usar e sentir. É uma coleção sem medo da passagem do tempo e que assume os riscos e cicatrizes como parte da sua própria história.
Em última análise, este projeto é também o acreditar numa indústria portuguesa quase esquecida, repleta de valores que ficaram de parte, quando quase tudo passou a ser feito lá fora, por máquinas em vez de pessoas.
De início, criada a pensar no que me faz falta, a FG Edition foi crescendo por curiosidade minha, mas também pelo incentivo de amigos e de clientes que aos poucos foram surgindo, mesmo sem estar lançada oficialmente. Depois de mais de um ano de desenvolvimento de novos modelos, de centenas de desenhos e de tantas maquetas reais testadas por mim em casa ou em viagem, resolvi finalmente partilhá-la.
Espero que gostem.
Fernando Guerra
Rio de Janeiro, 12 fevereiro 2017
There is always a tendency to associate what we do with who we are. And in my case, it’s obvious. I am an architect and an architectural photographer and I’m expected to speak as such. But photography and architectures are not the end sum of who I am at all. Of course, it is what I do and what motivates me every day. However, photography as a way of life is also the starting point of a great journey by way of so many other things. This is where FG Edition fits in.
Storage: a personal journey
FG Edition was launched in 2014 with the Portuguese brand Sul as an accessory line designed for those who enjoy photography. And if designing camera straps or memory card cases wasn’t exactly programmed into my life - as few things are, in spite of the inevitable relationship with my professional life- the truth is that it became the theme for venturing towards a more personal project.
Ever since childhood I’ve liked to carry what I need with me in backpacks, cases or bags. Preferably in ones that grab my attention. Over time taste turned into necessity and, currently, a camera is just one of many objects that accompanies me every day.
This way of considering objects as essential is perfectly in tune with my taste for cases/bags made primarily of leather. I’ve always wanted to understand the process of their design and manufacture, what their patterns look like; how different materials and textures are adapted and combined, or, most importantly, how the leather is stitched together. Essentially, to accompany everything behind the creation of a bag.
Not necessarily a photographer’s bag -which is the expected link to what I do in my daily life and to the genesis of FG Edition.
Typical camera bags tend to have boring designs and materials because discretion is considered essential. And often, it is truly important .... But it's the exceptions that interest me. I speak with a knowledge of the facts, based on the dozens of bags I’ve bought over the past 30 years. The truth is, no matter how sturdy the material or unexpected the place, not all of us need cases that can withstand a climb up Everest.
At least, I don’t.
That’s exactly the reason why – knowing what I like and what I need – that I’ve chosen to dedicate myself to my own collection of bags/backpacks, branching out into a line of accessories, indulging in inspirations I’ve come across throughout my life and on the constant journeys I have the privilege of undertaking as a photographer.
In the middle of all this, I try to avoid cheap and uninspiring materials, ones without any visual or tactile interest. Instead I prefer to discover expressive materials rich to the touch and rely on the tradition of Portuguese craftsmen who, from time immemorial, have made objects like riding saddles, the erstwhile postman courier bag, or the ticket inspector’s shoulder bag on the bus service that I remember seeing in Lisbon a few years ago.
No matter how much I travel or how many references I get from other peoples and cultures, never for a single moment has it crossed my mind to follow through with this project without trying to source everything locally. From raw materials to execution. And countering the tendency, FG Edition is made in Lisbon.
Inspirations
If I point out my inspirations for each of the FG Edition pieces, we have the world, the people in it, and the objects that appear and wink at me when I least expect it - whether it's on the street, riding in a car, or in an Instagram post. On the other hand, there is that detail that no one appreciates anymore but which seems to me to be so perfect for preservation and reuse. And there are even those childhood memories that tend to linger ... thirty years later, I am still enchanted by the leather tone, thread and stitching used on my Brooks bicycle saddle; And for FG Edition I discovered in the toolbox of the same brand the perfect innovative solution as a source for a backpack ten times bigger, like our Garbatella.
From my time spent visiting so many places, I like to recall the day when, after passing a group of children in Tokyo on their way to school, I realized that the traditional and symbolic Japanese school lunchbox (randoseru) is one of the most beautiful bags I've ever seen. And Garbatella evokes much of this Japanese bag.
There are other simple objects that serve as inspirations - whether they are mere riding harnesses or textures I come across that capture what I really want to feel: recreating the feel of an old car’s upholstery in which the leather, hardened by the sun and the passing years, ends up with a unique patina (does everything we touch have to be polyester or plastic?); Revive the experience of a vintage postman mailbag with a unique patina from use that all on its own seems to harbour many of the stories from the letters it carried ... For a long time, my own bag was one of the catalysts for all of this.
So often, it is the objects themselves that define how they will be stored, such as their design or the reason for which I need them. There are no formulas or road maps. There is not even a map for launching a new model.
A collection fearless of time
Consisting of bags, backpacks, and accessories, FG Edition is thus a collection for storing, transporting, using and feeling. It is a collection without fear of the passage of time and that takes on risks and scars as part of its own history.
In the final analysis, this project is also about faith in an almost forgotten Portuguese industry, full of values that have been set aside, when almost everything was manufactured abroad, by machines instead of people.
Created at first from thinking about what I felt was missing, FG Edition gradually grew out of my own curiosity, but also from the encouragement of friends and clients, even before being officially launched. After more than a year of developing new models, hundreds of drawings and quite a number of actual prototypes tested by me at home or on the road, I finally decided to share with others.
I hope you enjoy it.
Fernando Guerra
Rio de Janeiro, 12 February 2017
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